"Uma estudante do Conservatório Nacional passa todos os dias pelo Bairro Alto. A maioria dos lisboetas só conhece a face nocturna desta parte da cidade, mas ela repara que ali, de facto, mora alguém. Pessoas idosas habitam as casas do bairro. Alguns destes indivíduos são só caras, caras que ela vê do outro lado das janelas – e nunca na rua.
Porquê? Começa a perguntar a si mesma. Algum tempo depois, decide transformar a resposta num filme. Entra em contacto com as instituições filantrópicas. Descobre, assim, que os prédios dos bairros velhos não envelhecem sozinhos – dentro deles há habitantes sempiternos, geralmente mulheres, cujo universo se reduziu à própria casa. A jovem foi entrando no universo delas, até ao momento em que pôde filmá-las. Assim nasceu o documentário “Lisboa Domiciliária” de Marta Pessoa, que vi este Outubro durante o 7o DocLisboa.
A autora descobre as razões da reclusão das suas protagonistas. Na maioria dos casos trata-se de fraqueza física que já não deixa descer e subir as escadas íngremes das suas casas. Outras pessoas, porém, gozam de uma saúde impecável, mas têm medo - medo de sair à rua, de ser atropeladas, roubada...
A tudo isso junta-se a desilusão com a vida contemporânea."
Marek Cichy
Estudante do 5º ano de Estudos Portugueses da Universidade de Varsóvia
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