quarta-feira, 22 de setembro de 2010

LISBOA DOMICILIÁRIA NO FILMINHO



TimeOut Lisboa . ENTREVISTA

clique na imagem para ler


LISBOA QUE ENVELHECE

Não tem palavras de introdução, prolegómenos, preparação. “Lisboa Domiciliária” entra diretamente no seu tema, rostos idosos, casas velhas, o coração da cidade (Bairro Alto, Mercês, por exemplo). Primeiro, até parece que a câmara está disfarçada, não interage com o que se passa (uma mulher que precisa de sair numa cadeira, descida à força de braços por uma escada por onde nunca mais poderá ir pelo seu pé; uma outra deitada, quase confinada ao leito, dando instruções a uma empregada, lá dentro). Depois, a câmara ‘falará’ com essas pessoas, sem que haja uma voz por detrás, deixando que elas contem — mágoas, memórias, desilusões, há quem invetive o mundo, há quem lamente a aridez da vida, há quem mostre fotografias, há quem desfile canções, há quem se lembre de quando era possível estacionar um automóvel lá em baixo, na rua, mesmo ao pé de casa.
“Lisboa Domiciliária” é um documentário amargo. A realidade que apresenta não tem saída, não tem remédio, não tem esperança. O presente é de sofrimento, o futuro é só mais sofrimento — ou o fim de tudo. Apesar disso, Marta Pessoa dota-se de um longo bafejo de misericórdia e persegue essa realidade com uma infinita disponibilidade, talvez quase ternura. Nunca olha mais do que deve, nunca recolhe mais que uma dignidade continuada e, deste ponto de vista, o filme é exemplar e devia ser visto e meditado pelos muitos que, em televisão, mostram a abjeção fácil, sempre que se abeiram dos grupos sociais na margem ou na fronteira da exclusão. Por isso, releve-se a postura de “Lisboa Domiciliária”: nunca se trata de ir espreitar, mas de conhecer — pessoas que, lisboetas, a cidade não mostra, antes cala, por detrás de paredes vetustas, como vetustas são as idades desses cidadãos. Uma Lisboa que nos faz estremecer e quase interroga o sentido da vida.


Jorge Leitão Ramos . Expresso

terça-feira, 21 de setembro de 2010

PONTO DE PARTIDA PARA UMA REFLEXÃO

“As casas morrem de velhas, mas não morrem sozinhas. Nos prédios altos, por detrás das janelas, há um mundo dentro do mundo. São pessoas, idosos na maior parte, quase imóveis. Os corpos unem-se às casas e criam uma nova arquitectura. Para entrar neste universo é preciso mais do que passar a porta”.

É com este cartão de visita, em formato de sinopse, que a ainda jovem realizadora Marta Pessoa nos apresenta o seu mais recente filme. Aceitámos o convite e passámos para lá das portas abertas por Vera, Vasco, Arminda, Isabel, Maria Helena e Felicidade, uns entre os muitos homens e mulheres a quem a idade e a restringida mobilidade os confinam às paredes das suas casas.

Delicadamente sentados junto a estes seis anfitriões e a desafio de uma câmara estática e paciente por companhia, embarcamos ao longo de pouco mais de hora e meia numa narrativa de imagens e palavras pausadas que nos transportam a um mundo que sabemos existir, mas onde nem sempre queremos ou podemos entrar: o de uma geração que em tempos cuidou de nós e hoje precisa de ser cuidada, mimada, acolhida. Uma geração que atentamente escutou e cultivou os nossos sonhos de futuro a quem dois ou três minutos de revisitação do passado chegam para devolver ao rosto o sorriso fresco de outrora.

Apesar da limitação física, da fragilidade do corpo marcado pelo tempo, nem todos os protagonistas se abandonaram à deriva das suas vidas. Nesta viagem ao mundo real dos nossos dias, entre os que ainda podem, há os que se mantêm firmes ao leme das suas vidas, os que não perdem de vista o horizonte e os que teimam em ver sempre sempre mais além.

Não sendo um filme tecnicamente ágil nem narrativamente empolgante, “Lisboa Domiciliária” é, contudo, um documentário sério e credível, ponto de partida válido para uma reflexão sobre uma realidade social que nos aflige, apelando a um aprofundamento dos nossos valores e ao inequívoco empenhamento na nossa prática cristã.


Margarida Ataíde . Agência Eclesia

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

ROSTOS DE QUEM FAZ LISBOA

“Lisboa Domiciliária” é um documentário com sete rostos. Sete idosos, escondidos atrás das paredes das casas lisboetas. Vivem em isolamento. A realizadora Marta Pessoa entrou nas suas vidas e mostra-as neste documentário que se estreia dia 16 de Setembro. O METRO esteve com ela e mostra-lhe mais sobre este projecto.

Como nasceu a ideia de fazer este documentário?
A ideia era mais sobre o isolamento em que as pessoas vivem devido a variadas circunstâncias. Eu tinha um caso próximo, o da minha avó, tinha 94 anos, e sempre fora bastante independente, gaiteira, andarilha, gostava de ir ao café, comer o seu bolinho, e de repente ficou numa situação em que deixou de conseguir movimentar-se. Mas a ideia é mais antiga. Estudei no Conservatório, que era no Bairro Alto, e de repente questionei-me porque é que as pessoas que eu via nas ruas não eram as mesmas que via nas janelas. Mas também sei que este é um problema não é específico de Lisboa, existe no Porto, Coimbra, é característico das grandes cidades. Paris tem o mesmo problema, pelo tipo de arquitectura.


Patrícia Tadeia . Metro

entrevista completa

UMA CASA PODE-SE TRANSFORMAR NUMA PRISÃO

Uma casa pode-se transformar numa prisão. Sobretudo quando se é velho e se vive num andar alto de um prédio menos cuidado ou muito degradado. É o que acontece aos sete velhotes (seis mulheres e um homem) lisboetas que Marta Pessoa descobriu, filmou e ouviu longa e atentamente para o seu documentário Lisboa Domiciliária.
Por questões de saúde, não podem deixar as casas tão ou mais velhas do que eles, onde moram sozinhos e dependendo da ajuda amiga ou da assistência profissional de outros, ou acompanhados por familiares também já entrados nos anos e por gatos. Já enviuvaram, estão acamados, em cadeiras de rodas, apoiam-se em muletas ou andarilhos, ou então ainda conseguem mexer-se, mas pouco e com dores ou muita dificuldade, não o suficiente para descerem os lanços de escada que os separam da rua, do ar livre, da vida do bairro, do bulício da cidade.
Perante a câmara, recordam as vidas que viveram, falam do dia-a-dia e das maleitas, lamentam-se, recusam deixar-se ir, dialogam com as senhoras da assistência social, os médicos, as funcionárias do apoio domiciliário ou as vizinhas que os mantém limpos, alimentados, vivos e ligados ao mundo que passa lá em baixo. E que não voltarão a pisar. Lisboa é também a cidade destes prisioneiros das suas casas, e todo o mérito para Marta Pessoa por nos revelar que eles existem.


Sérgio Abranches . TimeOut

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

LISBOA DOMICILIÁRIA EM DEBATE

Em 'Lisboa Domiciliária', o espectador entra nas casas de sete idosos que vivem praticamente confinados nos seus lares, não só pelo desfasamento que alguns sentem em relação ao mundo exterior mas principalmente pela sua debilidade física, que torna quase impossível ultrapassar as escadarias características dos edifícios antigos da capital.

É um retrato não só de um isolamento forçado como também da forma de apoio domiciliário com que o exterior, melhor ou pior, toca a vida de um grupo cada vez maior de pessoas, que todos vêem no alto das suas janelas sem perceberem exactamente o que se esconde para lá delas.


Veja aqui a conversa com a realizadora Marta pessoa e os comentários

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

ESTAS PESSOAS SOFREM MAIS DE ISOLAMENTO QUE DE SOLIDÃO

'Lisboa Domiciliária' é um documentário de Marta Pessoa sobre sete idosos de Lisboa que são prisioneiros das casas onde vivem, por problemas de saúde mas também devido ao estado de degradação e à arquitectura adversa dos prédios. Estreia-se amanhã

Como apareceu a ideia de Lisboa Domiciliária?
Esta ideia tem já muito tempo. Eu sou de Lisboa, nasci na Lapa, em 1974, à beira da revolução. A minha família é quase toda de Aljezur mas considero-me lisboeta. Uma lisboeta sempre um bocado zangada, que é a melhor maneira de se ser lisboeta. Sempre vivi em Lisboa, mas não no centro. Fui estudar para o Bairro Alto, para o Conservatório, e naquela altura praticamente vivia no Bairro Alto. Foi aí que comecei a reparar que as pessoas que estavam às janelas, lá no alto, não coincidiam com as que andavam na rua. A questão começou a surgir por causa da minha avó, também algarvia mas lisboeta há muito tempo, como algumas das senhoras do filme. Ela ficou numa situação complicada, e ainda por cima morava num primeiro andar. E ela era muito andarilha, fazia muita vida de cidade, de que teve que abdicar, o que me meteu muita impressão. Eu tinha feito também uma curta, chamada Manual do Sentimento Doméstico, que me fez andar muito pela Baixa e reparar nessas mesmas casas e águas-furtadas...


Eurico de Barros . Diário de Notícias

entrevista completa

terça-feira, 14 de setembro de 2010

DENTRO DAS MURALHAS DA CIDADE

Há um mundo que se esconde nos prédios antigos dos bairros populares da cidade de Lisboa. São idosos, separados das ruas, por uma muralha feita de patamares de escadas. Marta Pessoa mostra-nos esta Lisboa Domiciliária, num filme que passou pelo Doc Lisboa e agora estreia, em exclusivo, dia 16, no cinema City Alvalade. A cidade que não se vê.


Manuel Halpern . Jornal de Letras Artes e Ideias

entrevista completa

terça-feira, 7 de setembro de 2010

AS MARIAS JOSÉS DO BAIRRO ALTO

"Uma estudante do Conservatório Nacional passa todos os dias pelo Bairro Alto. A maioria dos lisboetas só conhece a face nocturna desta parte da cidade, mas ela repara que ali, de facto, mora alguém. Pessoas idosas habitam as casas do bairro. Alguns destes indivíduos são só caras, caras que ela vê do outro lado das janelas – e nunca na rua.

Porquê? Começa a perguntar a si mesma. Algum tempo depois, decide transformar a resposta num filme. Entra em contacto com as instituições filantrópicas. Descobre, assim, que os prédios dos bairros velhos não envelhecem sozinhos – dentro deles há habitantes sempiternos, geralmente mulheres, cujo universo se reduziu à própria casa. A jovem foi entrando no universo delas, até ao momento em que pôde filmá-las. Assim nasceu o documentário “Lisboa Domiciliária” de Marta Pessoa, que vi este Outubro durante o 7o DocLisboa.

A autora descobre as razões da reclusão das suas protagonistas. Na maioria dos casos trata-se de fraqueza física que já não deixa descer e subir as escadas íngremes das suas casas. Outras pessoas, porém, gozam de uma saúde impecável, mas têm medo - medo de sair à rua, de ser atropeladas, roubada...
A tudo isso junta-se a desilusão com a vida contemporânea."


Marek Cichy

Estudante do 5º ano de Estudos Portugueses da Universidade de Varsóvia

CINECARTAZ ípsilon

"Tudo pode ter começado há mais de uma década, quando Marta Pessoa ia muitas vezes para o Bairro Alto durante o dia e olhava para aqueles prédios. Ou pode ter começado um pouco mais tarde, quando a avó de Marta, que sempre gostara muito de passear, ficou doente e debilitada e deixou de poder sair de casa. "A minha avó já faleceu, mas podia ser uma destas mulheres", diz Marta, falando das mulheres (e um homem) que filmou em Lisboa Domiciliária.

Quando decidiu fazer o filme contactou as instituições que fazem apoio domiciliário a idosos. Acompanhou os técnicos nas visitas e com eles subiu as escadas estreitas e íngremes dos prédios sem elevador dos bairros antigos de Lisboa. "As pessoas abriram-me a porta e receberam-me. Fui entrando e filmando."

Primeiro conversou com os idosos que "gostavam muito de ter companhia e de poder conversar". E depois começou a filmar deixando a cada um o espaço que ele próprio ia conquistando - há uma senhora que veste os melhores vestidos, põe discos em vinil no gira-discos, mostra antigas fotografias ("todos mortos, meu Deus, meu Deus") e canta; uma que passa a ferro e se preocupa com os gatos; outra que espera na cama a visita do médico; outra que almoça na mesa da cozinha a comida que aqueceu no microondas.

"Comecei com a ideia de fazer um filme mais social e político, de revolta", explica Marta, um filme sobre pessoas presas nas suas casas porque não têm um elevador. "Quando olhava para elas, projectava-me no futuro." Mas com o tempo Lisboa Domiciliária foi-se tornando muito mais um filme sobre aquelas pessoas. E "embora tenha um lado triste, não é um filme triste". Não são histórias de quem desistiu de viver. Pelo contrário. São histórias de pessoas com força de viver - só que têm que o fazer entre quatro paredes."



Alexandra Prado Coelho (PÚBLICO)